Em Algum Lugar nas Estrelas

Em Algum Lugar nas Estrelas

Desde os primórdios dos tempos as estrelas inspiram o fascínio da humanidade, que olhava para o céu e procurava explicações para tamanha beleza sempre que a escuridão o preenchia. Desse fascínio surgiram constelações com diversos nomes e significados explicados por mitologias de povos antigos. 

Posteriormente,  as estrelas se tornaram instrumentos para determinar as épocas de colheitas, caça e pesca e a passagem do tempo, grandes navegadores guiaram-se pelos caminhos traçados pelas estrelas para vencer a imensidão dos mares e descobrir lugares inexplorados por um mundo desconhecido. 

No livro Em algum lugar nas estrelas, de Clare Vanderpool, acompanhamos a empreitada de dois garotos dos anos 50 que, guiados pela Ursa Maior, exploram a difícil aventura de crescer.

O protagonista, Jack, é mandado para um internato pelo pai capitão do exército após a morte da mãe. Solitário e perdido em seu luto, ele conhece o excêntrico Early, que mora na escola e aparece e desaparece a todo momento pelas salas de aula e corredores. A ausência do menino chama a atenção de Jack que, após um incidente no lago da escola, se aproxima do garoto e começa a mergulhar em sua mente brilhante e incomum.

Ao contrário do que um renomado cientista está prestes a tentar provar para a comunidade científica, Early não acredita que o pi é um número finito, para ele pi é um garoto que saiu para conquistar o nome Polaris e se perdeu no caminho. Obviamente Jack achou a teoria absurda, mas sua incredulidade não o impediu de entrar em uma aventura em busca de pi e do irmão dado como morto de Early. 

Os garotos conheceram piratas, senhoras centenárias, ursos gigantes e se perderam inúmeras vezes ao longo da jornada, mas sempre encontravam o caminho de volta ao guiarem-se pela Ursa Maior. 

Alternando-se entre a história dos garotos e do menino pi, contada por Early por meio de sua leitura dos números que compõem esse número irracional, a narrativa lembra muito os clássicos O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, e Peter Pan, escrito por  J. M. barrie, por sua atemporalidade e capacidade de se ressignificar para diferentes versões de nós mesmos em cada fase da vida.

Apesar do protagonismo de duas crianças, o livro mexe com sentimentos difíceis de serem enfrentados por infantes e adultos. A dor de perder algo ou alguém nos transforma em uma estrada sinuosa e difícil de percorrer, seja ela uma estrada antiga e esburacada pelas pancadas que leva de seu explorador ou imaculada, livre dos percalços da vida. 

No livro, duas crianças que percorrem suas próprias estradas pela primeira vez ensinam o que temos medo de aprender toda vez que enfrentamos nossas próprias estradas. Encontrar o fim dela após uma perda não é uma tarefa fácil e teremos que percorrê-la várias vezes ao longo da vida, sulcando-a com marcas profundas. 

Jack se trancou em um lugar muito escuro após a morte de sua mãe, se sentia perdido e viajava pela estrada dele de cabeça baixa sem realmente olhar para onde ia. Impulsionado pela solidão, se embrenhou pela floresta com Early e nem reparava enquanto suas feridas começaram a cicatrizar e o fim da estrada dava lugar a sabedoria de quem já a havia percorrido. 

Apenas quando Early, sempre certeiro e confiante, se aprisionou no mesmo lugar no qual antes estivera, Jack percebeu que esta estrada não precisa ser percorrida sozinha e reuniu suas recém descobertas cicatrizes para guiar o amigo pelo tortuoso caminho. 

Embarcamos  na aventura dos dois meninos como se esses personagens fossem de carne e osso e  não feitos de tinta, papel e imaginação, eles nos ensinam que enfrentaremos nossos próprios piratas, águas revoltosas e números embaralhados, mas se olharmos para cima, iremos sempre encontrar a ursa maior para nos guiar. 

*Ilustração desenvolvida por Raquel Teixeira especialmente para o Vira-Tempo.

Em Algum Lugar nas Estrelas

Em Algum Lugar nas Estrelas

  • Autor: Clare Vanderpool
  • Tradução: Débora Isidoro
  • Editora: Darkside
  • Ano de Publicação: 2016
  • Nº de páginas: 288

Em Algum Lugar nas Estrelas, da autora norte-americana Clare Vanderpool, é um romance intenso sobre a difícil arte de crescer em um mundo que nem sempre parece satisfeito com a nossa presença. Pelo menos é desse jeito que as coisas têm acontecido para Jack Baker. A Segunda Guerra Mundial estava no fim, mas ele não tinha motivos para comemorar. Sua mãe morreu e seu pai... bem, seu pai nunca demonstrou se preocupar muito com o filho. Jack é então levado para um internato no Maine (o mesmo estado onde vivem Stephen King e boa parte de seus personagens). O colégio militar, o oceano que ele nunca tinha visto, a indiferença dos outros alunos: tudo aquilo faz Jack se sentir pequeno. Até ele conhecer o enigmático Early Auden. Early, um nome que poderia ser traduzido como precoce, é uma descrição muito adequada para um prodígio como ele, que decifra casas decimais do número Pi como se lesse uma odisseia. Mas, por trás de sua genialidade, há uma enorme dificuldade de se relacionar com o mundo e de lidar com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Quando chegam as festas de fim de ano, a escola fica vazia. Todos os alunos voltam para casa, para celebrar com suas famílias. Todos, menos Jack e Early. Os dois aproveitam a solidão involuntária e partem em uma jornada ao encontro do lendário Urso Apalache. Nessa grande aventura, vão encontrar piratas, seres fantásticos e até, quem sabe, uma maneira de trazer os mortos de volta – ainda que talvez do que Jack mais precise seja aprender a deixá-los em paz.

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