Ficção nacional mais vendida no Brasil em 2018, Textos Cruéis Demais inspira nova geração de poetas vindos da internet

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Ficção nacional mais vendida no Brasil em 2018, Textos Cruéis Demais inspira nova geração de poetas vindos da internet

A juventude atual é uma geração de sentimentos. O amor, a tristeza, a raiva, a felicidade e o momento de perder uma paixão são vividos com tanta intensidade que acabam por escoar para além deles. 

Na literatura, a poesia compartilha da sensibilidade da juventude. É um gênero sem pudores em abordar aquilo que precisa ser sentido devagar, com acolhida e entendimento que a efemeridade dos momentos bons e ruins fazem parte da vida. 

Inspirada pela essência deste tipo de literatura a nova geração de leitores e escritores protagoniza um movimento poético que colocou esse gênero no topo das listas dos livros mais vendidos e destaque na internet. Em 2018 a ficção mais vendida no país foi o brasileiríssimo Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente

O autor da obra, Igor Pires, veio de uma família humilde e ainda cedo fez amizade com as poesias de grandes autores como Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Manoel de Barros e Clarice Lispector,

Para mim poesia sempre foi uma linguagem mais aceitável de mundo, o tornando mais bonito, menos duro, menos real.

Idealizado em 2016 pelo estudante em conjunto com Letícia Nazareth e Malu Moreira, o Textos Cruéis começou como uma página no Facebook com o intuito de dar oportunidade para vários autores publicarem seus textos sobre o amor. Em seis meses o coletivo já contava com 100 mil curtidas na rede social e em dezembro de 2017 ganhou a adaptação para o livro, no qual foi publicado pela editora Globo Alt com textos inéditos de Igor e diagramação de Gabriela Barreira.

Em fevereiro de 2019 a dupla lançou o segundo volume, Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente – Onde dorme o Amor, repetindo o sucesso do antecessor e figurando na lista dos mais vendidos ainda na estréia.

O primeiro livro do coletivo foi sucesso absoluto em 2018. Foto: Divulgação

A poesia de Igor é construída em todo lugar, aonde ele estiver. O  primeiro livro foi escrito no ônibus, pelo bloco de notas do celular, entre viagens a caminho da faculdade. 

Por meio dos textos, os leitores se sentem transparentes como se cada palavra pudesse vê-los intimamente e tocar seus sentimentos, tornando-os palpáveis.

Poesia na internet

Do outro lado da internet o jovem José Luiz explora suas camadas por meio do Letargia. A letargia é o estado de inconsciência, quando o indivíduo tem vontade de dormir ao mesmo tempo em que não quer se entregar às profundezas do sono. José batizou seu projeto com esse nome por identificar no sentimento o seu desejo de viver um amor e não conseguir vivê-lo da maneira desejada

O Letargia é um projeto que, na minha cabeça, é maior do que uma página, mas, por enquanto, ele é uma página no Facebook e no Instagram, onde eu posto meus textos, que são sobre amor e vulnerabilidade.

Assim como Igor, José viu na poesia a forma mais justa consigo mesmo de expressar seus sentimentos. Para  mastigá-los e digeri-los nos poemas o escritor iniciante os transforma em pessoas. Quando escreve sobre amor e saudade e quando trava uma batalha entre coração e cérebro ele os personifica instaurando uma conversa pessoal. 

José deseja tornar a sua página em um livro físico e espera conseguir mais visibilidade e seguidores para chamar a atenção de uma grande editora, mas seu principal guia para continuar escrevendo é a arte. 

José Luiz sonha em transformar o Letargia em um livro físico. Foto: Divulgação

Igor também continua a manter o desejo de ser reconhecido pelos seus textos e sentimentos, mesmo em um ambiente no qual o comportamento é pautado pela validade do outro:

Eu prefiro escrever coisas que sejam perenes, que façam com que as pessoas se lembrem depois, que façam parte da vida dessas pessoas. Não é à toa que nós somos hoje o maior projeto de textos do país, acho que é porque as pessoas se conectam, a conexão da minha arte com as pessoas é o que fica.

A busca pela conexão também move José, esse objetivo é intensificado pela internet:

A internet deixa as coisas mais  pessoais, eu não tenho que passar por um filtro antes de postar o que eu posto, eu posto o que eu quero. Aquela é minha voz, eu não preciso que ela seja aprovada por ninguém para ser postada. E além disso, deixa mais próximo de pessoas que compartilham de experiências semelhantes às minhas ou de visões sobre os assuntos  que eu posto.

Ao longo da vida aprendemos a construir dentro de nós um lugar para trancafiar o que sentimos a prova de vulnerabilidades. Demolir esse calabouço e expor fragilidades é audacioso.

Escrever é um processo de continuidade que começa no autor e termina em seus leitores, quando publicados na internet seus textos deixam de ser seus e passam a ser de outras pessoas:

Essa é a grande questão do meu trabalho enquanto escritor e artista, eu estou sempre nessa linha tênue que separa o Igor que quer guardar para si e o Igor que precisa escrever e botar para fora. Eu sinto que quando eu escrevo e solto isso , o poder de alcance daquilo que eu estou sentindo e o poder de identificação são muito mais poderosos e efetivos do que se eu escrevesse e deixasse isso comigo, encerrasse em mim.

O sucesso da vulnerabilidade de Igor atesta para jovens como José que vale a pena. Vale a pena abrir mão do medo de deixar-se ser enxergado e vulnerável, vale a pena sonhar em ser transformado no livro best-seller exposto na vitrine da livraria,

Eu quero que o Letargia seja um livro físico e que as pessoas leiam e se identifiquem e saibam que está tudo bem você ser vulnerável com seus sentimentos, porque essa é uma forma de lidar com eles também, você não precisa sempre negar eles. Os sentimentos ruins estão aí para serem sentidos também.

Para José e todos os corajosos jovens poetas Brasil afora Igor encoraja:

Continuem escrevendo, seja por amor a escrita, seja por amor a arte, seja como forma de abstrair, de esquecer ou de lembrar. Eu acho que talvez essa seja a principal razão de se escrever assim, seja para documentar e para deixar mais palatável aquilo que se está sentindo.

 Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente

Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente

  • Autor: Igor Pires
  • Editora: Globo Alt
  • Ano de Publicação: 2017

Indo contra a tendência dos textos curtos e superficiais que são postados nas redes sociais, o coletivo literário Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente (TCD) passou a produzir e compartilhar um conteúdo extenso, profundo e extremamente poético em suas páginas no Facebook e no Instagram. Com seus escritos e ilustrações, eles acabaram atingindo um público muito maior do que o esperado, nos mostrando como, apesar da crescente agilidade que nossa comunicação exige, ainda precisamos de tempo para digerir e entender nossas complexas relações humanas. Para este livro, foram produzidos textos inéditos que ganharam a companhia das sensíveis ilustrações de Anália Moraes.

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