Céu Sem Estrelas

Céu Sem Estrelas

Quando um fusca azul desce a rua salve-se quem puder, o mais esperto protege o braço com um  soco no companheiro desavisado. Essa brincadeira antiga traz familiaridade e lembranças para pessoas de diversas gerações. Para Cecília e Bernardo, protagonistas do livro Céu Sem Estrelas, da escritora brasileira Iris Figueiredo, um fusca azul representa uma conexão e a oportunidade de contemplar partes profundas de seus corações que nunca tiveram coragem de deixarem vir à superfície. 

O livro abriga uma história sensível e sincera sobre depressão, autoaceitação e imperfeições. Cecília é uma jovem universitária talentosa, que sonhava em unir as suas duas paixões: o desenho e livros. Mas os sonhos dela são obscurecidos por problemas com a mãe, que a expulsa de casa sempre que não consegue se entender com a filha, a visão deturpada sobre o seu corpo fora dos padrões e episódios de ansiedade e tristeza.

Bernardo é o irmão da melhor amiga de Cecília, ele é o típico garoto perfeito: popular, inteligente e simpático atrai a amizade dos garotos e a atenção das garotas. Entretanto, Bernardo almeja uma vida  diferente das baladas, pegação e conforto. 

Quando Cecília é enxotada mais uma vez da casa da mãe ela decide ir para a casa de Iasmin. Na casa da amiga ela se aproxima de Bernardo ela encontra um abrigo mais seguro do que um teto sob sua cabeça. 

Geralmente quando um autor decide que precisa contar uma história ele começa por um ponto do enredo ou por um plot, mas Iris é uma autora feita de pessoas e, por isso, começa a traçar as linhas que irão compor sua ficção por meio de pessoas. 

Em 2011 enquanto resolvia a papelada para mudar de faculdade veio a cabeça de Iris um casal que não se falava há muito tempo, mas que precisava fazer um trabalho universitário juntos. Instigada para conhecer melhor a história dos dois personagens, Iris decidiu que precisava colocá – la em um livro. 

O processo de construir a história de Cecília e Bernardo demorou cerca de seis anos, Iris diz que não tem ideias de enredo, ela tem ideias de personagem, por isso, o processo de lapidação da obra costuma demorar. Outro motivo para a longa passagem de tempo até o lançamento do livro é o processo pessoal no qual a autora enfrentou,

Eu sempre quis escrever sobre transtornos psicológicos, mas eu achava que eu não estava pronta, então também foi um processo meu de ficar pronta para escrever sobre isso.

Para Iris escrever um livro é um ato de honestidade com quem o lê, já que o leitor consegue sentir quando o texto não está pronto ou quando ele não deveria existir. Para ela o autor precisa ter a certeza de que sua história é necessária no fundo do coração. 

No caso de Cecília a razão de ser do seu céu sem estrelas estava na sua imperfeição. Iris estava cansada de ver representações de pessoas perfeitas, pois ela mesma se sentia imperfeita. Para a autora a literatura precisa se conectar com os leitores e ela não conseguia se conectar com personagens que não aparentavam ter defeito algum. 

Antes de ser escritora ela achava que não poderia contar as vivências de alguém que não estivesse dentro dos padrões, mas Cecília foi um ato de rebeldia, a personagem ensinou a sua criadora que sim, o livro é dela e ela pode fazer o que quiser, como colocar desajustados e problemáticos como peças centrais de suas criações.

Quando eu comecei a escrever a Cecília eu já sabia que ela não seria perfeita, porque se ela fosse perfeita ela não teria razão de existir e a partir do momento que eu a fui construindo,  sendo uma menina gorda, que tem problemas com a família e que a avó é a coisa mais importante da vida dela, todos esses pequenos detalhes fazem Céu Sem Estrelas ser o que ele é.

Para a escritora a literatura precisa sair do óbvio e por meio da história da protagonista, tão próxima da sua própria realidade, ela conseguiu trazer para a literatura  a sua obviedade. Para escrever as nuances da história de Cecília, Iria a colocou sob sua proteção e pôs-se a trabalhar em pesquisas. Foram seis livros sobre transtornos de personalidade borderline. 

Essa dedicação resultou em um espaço em que nossas obrigações em parecermos perfeitos e corajosos fica em suspenso. Um lugar onde pode-se sentir livre para ser, pensar e criar realidade da forma que quiser, formado por personagens reais, que são capazes de conversar diretamente com quem os lê. 

O livro é um enorme sucesso que mudou para sempre a vida de sua autora. Convidada da FLIPOP, festival de literatura pop da editora Seguinte, Iris foi rodeada por um mar de fãs que a abraçavam e agradeciam pelo acalento e pela compreensão que lhes foram dados. Céu sem estrela se tornou o fusca azul para Iris e para os leitores que se sentiram acolhidos pela sua história.

É muito incrível você escrever algo que saiu da sua cabeça e era mais uma cura para você  do que qualquer outra coisa e ouvir a pessoa falar que aquilo mudou a vida dela de alguma forma e que a partir daquilo ela conseguiu fazer alguma coisa na qual ela não conseguia, seja conversar com a mãe, seja procurar ajuda, seja entender o que estava acontecendo com ela ou entender melhor a outra pessoa.

*Ilustração desenvolvida por Carol Groeger especialmente para o Vira-Tempo.

Céu Sem Estrelas

Céu Sem Estrelas

  • Autor: Iris Figueiredo
  • Editora: Seguinte
  • Ano de Publicação: 2018
  • Nº de páginas: 360

Cecília acabou de completar dezoito anos, mas sua vida está longe de entrar nos trilhos. Depois de perder seu primeiro emprego e de ter uma briga terrível com a mãe, a garota decide IR passar uns tempos na casa da melhor amiga, Iasmin. Lá, se aproxima de Bernardo, o irmão mais velho de Iasmin, e logo os dois começam um relacionamento. Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo — e com a instabilidade de sua própria mente.

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