Podcast Curta Ficção dá dicas de escrita e fala sobre o mercado literário

| Artigos Entrevistas
Podcast Curta Ficção dá dicas de escrita e fala sobre o mercado literário

Em tempos de internet nem tudo o que circula na rede é texto, foto ou vídeo, os podcasts vieram para desmistificar a ideia de que as produções em áudio ficaram na era dourada das rádios. 

O podcast é como seus antecessores, entretanto, o conteúdo sob demanda é o grande diferencial. Os programas gravados para a internet podem ser assistidos a qualquer hora e em qualquer lugar e costumam ter temáticas muito específicas, que guiam os assuntos a serem debatidos nos episódios lançados periodicamente. 

Um levantamento feito pela plataforma de streaming Deezer, usando dados de outros serviços como Spotify, Apple iTunes e Google Podcasts, mostrou que os programas de áudio na internet cresceram 67% no Brasil em 2019, 17% a mais do que nos outros dois países analisados, França e Alemanha. 

Curta Ficção, o podcast de escrita

Na literatura, o Curta Ficção traz para o dia a dia discussões sobre escrita, livros e o mercado literário. Em entrevista concedida durante a Flipop 2019  Thiago Lee, Paola Siviero e Jana Bianchi, falaram sobre o nascimento do projeto. 

O trio de amigos se divide entre dois mundos. Lee é programador, começou a escrever ainda na adolescência e, em 2015, lançou seu primeiro livro, Réquiem para a Liberdade. Paola é formada em engenharia de alimentos, escreve contos para revistas e, em 2018, publicou o seu romance O auto da maga Josefa. Jana já compartilhou da profissão de Paola, mas há dois anos  trabalha no mercado editorial como tradutora, revisora e preparadora de texto e tem um livro publicado, o Lobo de  Rua

Lee e Jana são os membros fundadores do Curta, mas antes de embarcarem no mundo dos podcasts os dois experimentaram divulgar contos e autores brasileiros por meio de um projeto parecido com os clubes do livro atuais. Aos interessados era oferecido o envio de livros por qualquer preço. A ideia era boa, mas o tempo disponibilizado pela vida dos dois não era o suficiente, como explicou Lee:

Foi bem bacana, mas a Jana trabalhava com engenharia, eu tinha voltado a ser programador e a gente tinha que ler o livro, entrar em contato com o autor, fazer contrato com o autor, pagar e  mandar manualmente o livro.

Na mesma época Jana, Lee e Rodrigo (membro original do programa) mantinham um grupo onde conversavam sobre escrita, sobre projetos e sobre artigos. Em meio a troca de informações surgiu a ideia de transformá-la em um podcast com o objetivo de chamar público para o projeto antigo quando ele retornasse. Ele não voltou, mas o Curta Ficção se mantém ativo há três anos. 

Após a saída de um dos membros originais, Paola, que já era amiga do Lee e da  Jana e ouvinte, foi convidada a participar de um episódio e não saiu mais:

Quando você está escrevendo ou envolvido com literatura, principalmente quando tem outro trabalho ligado a área ou não, é muito legal quando você consegue se envolver em projetos específicos, porque dá mais vontade de escrever e trabalhar.

E essa é a essência do Curta Ficção, seus apresentadores não são profissionais da área, mas entusiastas do assunto que resolveram partilhar seus estudos e discussões com outras pessoas. 

Jana explica a ideia inicial do projeto:

Uma das coisas que a gente tinha mais preocupação quando a gente começou o podcast era que a gente não queria fazer um podcast para ensinar as pessoas a escrever. Não fazia sentido na nossa cabeça, a gente não é professor de escrita, nem nada do gênero. Nossa ideia era falar sobre coisas que estávamos estudando.

Pautas e Pavio curto

Os episódios são produzidos em três formatos diferentes: sobre técnicas de escrita,  episódios sobre análises de obras e as entrevistas, nos quais são abordados temas pouco dominados pelos apresentadores.

Quando perguntados quais os episódios preferidos as respostas foram tão diversas quanto o próprio programa. Para Paola o episódio 69, sobre sexo na ficção, foi divertido de gravar e tirou a todos das zonas de conforto. 

Jana tem predileção pelos episódios de análise, pois aprende sobre roteiro e diálogos. Introdução ao diálogo, Reagindo à sinopses e Começo, Meio e Fim, estão entre seus episódios preferidos. 

Lee gosta das pautas sobre o mercado editorial brasileiro, oportunidade em que o Curta Ficção recebe profissionais para falar sobre assuntos relacionados à profissão e às especificações da área. Um dos episódios mais ouvidos é a entrevista com Daniel Lameira, editor da Aleph que já passou pela Intrínseca, Fnac e LeYa.

O que eu gosto nesses episódios é que não se tem muitos sobre isso, sobre como navegar no mercado brasileiro. Se você for aprender sobre o agenciamento nos Estados Unidos, quando chega no Brasil não tem nada a ver, é completamente diferente. Então como você aprende sobre o mercado editorial brasileiro? Se as pessoas que trabalham lá te contarem.

Apaixonados por literatura jovem, Lee, Jana e Paola costumam receber muitos convidados ligados a esse segmento. A forte presença das histórias para jovens nas vidas do trio e no Curta Ficção tornou inevitável o nascimento de um novo programa que falasse sobre assuntos ligados ao mercado literário com a voz de quem ajuda a divulgar a literatura jovem no país. 

Comandado pelas agentes literárias da Página 7, Gui Liaga e Taissa Reis, o Pavio Curto é um spin-off do Curta Ficção. Nele, as apresentadoras recebem convidadas ligados ao mundo da literatura jovem para falar sobre o mercado literário e as “tretas” dos bastidores (como elas definem). 

Já passaram pelo podcast nomes importantes como a autora de Mensageira da Sorte, Fernanda Nia, a autora Olivia Pilar e a analista de marketing da Seguinte, Diana Passy.

Literatura jovem no Curta

A literatura jovem fomenta discussões nos dois podcasts, mas também influenciou o hábito da leitura em seus criadores. Graças às histórias de fantasia, distopia e contemporaneidade Paola, Jana e Lee mergulharam no mundo dos livros e fizeram florescer projetos importantes para a literatura no Brasil.

Eu ainda estou esperando o momento que eu vou amadurecer e parar de gostar de literatura jovem. Foi importante para a minha formação e continua sendo até hoje, tanto para entretenimento quanto para aprender sobre temas que eu não vivencio.

Paola

Ter uma literatura que comunica coisas importantes para o leitor ao mesmo tempo que diverte, não é um balanço tão fácil. A literatura jovem tem muito essa função do infantenimento, você ensina por meio de Harry Potter, por exemplo, sobre amizade e sobre amor.

Jana

No nosso público alvo a gente tem desde gente que está começando a entrar na vida adulta até gente com mais de 40 anos. Mas eu não saberia o que falar sobre literatura para pessoas de 50 anos, eu não sei discutir kafka, eu não sei discutir autores cabeçudos. Não é o nosso foco aqui, o nosso foco é falar sobre o que a gente gosta, a gente gosta de literatura fantástica, a gente gosta de ficção científica e é algo que a gente sabe falar. O nosso foco é democratizar a literatura, democratizar a escrita.

Lee

O Curta Ficção e o Pavio Curto revezam-se semanalmente para o lançamento de episódio novos. Para saber mais sobre os projetos e ouvir os bate-papos, clique aqui.

Comentários: